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“Humildade é andar na verdade.”

Santa Teresa de Jesus

Este artigo está sendo publicado no dia em que se comemora a memória de Santa Teresa de Jesus, também conhecida como Santa Teresa D’Ávila. Comentarei a sua doutrina sobre a humildade relacionada ao autoconhecimento.

Este tema está presente em diversos escritos da sua obra, não existe um tópico específico sobre a humildade. Muito se encontra sobre isso em “Caminho da Perfeição”, a segunda obra que ela escreveu.

Autoconhecimento

Santa Teresa ressalta a importância do autoconhecimento para a vida espiritual. Ela atribui uma grande importância ao conhecimento de si mesmo. Para ela um referencial comparativo é o Senhor. Ela confronta a grandiosidade de Deus com a pequenez individual. Assim, ela destaca os seguintes atributos da pessoa que é humilde:

  • É desapegado de si mesmo: do corpo, da saúde e do medo da morte.
  • Compreende que é o pior de todos, beneficiando e fazendo crescer os outros. Isso implica em ser obediente às necessidades, pedidos e limitações das outras pessoas.
  • Duvida das próprias virtudes, não vê a própria humildade e não acredita quando os outros lhe apontam esta virtude.
  • O humilde sabe quem é e onde deveria estar. Reconhece a humildade do Senhor e o que Ele fez por nós. Com isso vê o quanto está distante do modelo proposto pelo Mestre. Assim, a humildade funciona como uma proteção contra as tentações.
  • É pouca humildade: olhar as faltas alheias e não reconhecer as próprias.

Autoimagem

No convívio social, é comum a pessoa ser mal-entendida, julgada, acusada e mesmo condenada. Em maior ou menor grau, passamos por isso, quer na condição ativa – julgando e condenando; quer na condição passiva – sendo as vítimas dos julgamentos e condenações.

Esses julgamentos e condenações são ataques à nossa imagem pública e à autoimagem. Na época de Santa Teresa utilizava-se a expressão “honra”, isso eram ataques à honra pessoal.

Santa Teresa considerava que o importante é a verdade, não a opinião. Em decorrência disso, ela ressaltava que a pessoa humilde não deve estar ansiosa para defender-se, justificar-se, desculpar-se ou praticar quaisquer outros atos para modificar a opinião alheia. Ela ensinava:

  • Ser condenado sem culpa e calar-se é uma grande imitação do Senhor.
  • O verdadeiro humilde deseja com sinceridade ser pouco considerado, perseguido e até condenado sem culpa.
  • É um absurdo não querer sofrer ou desejar ter muita honra, diante do exemplo do Senhor. Ele sofreu, foi condenado, foi totalmente desonrado injustamente e tudo encarou em silêncio e com humildade.

Com relação a si mesma, ela dizia:

“Nunca ouvi dizer coisas ruins de mim que não deixassem a desejar. Mesmo que eu não ofendera a Deus naquelas coisas, em tantas outras ofendi até mais (…) O justo cai sete vezes ao dia. É mentira dizer que não temos pecado.”

Humildade ou ostentação?

Estas ideias podem parecer muito estranhas na época em que vivemos. O valor na pós-modernidade é justamente o contrário de tudo isso.

O que importa hoje é expor a própria imagem, enfeitar-se muito, cultivar uma imagem muito atraente e aparentar muita beleza, sabedoria e riqueza. Estamos na era da ostentação. Não tem valor o “ser”, o que conta é “parecer”.

Vivemos a era da autoestima exacerbada, da superexposição, do culto à aparência. Ora, se o próprio indivíduo sabe que o que está mostrando não corresponde à verdade, ele obterá um contentamento não duradouro ou inexistente. Sua única alegria seria ter passado uma mentira, ter enganado. O próprio indivíduo está passando “fake news” sobre si mesmo.

A Verdade

Há muita informação postada com uma máscara no corpo ou na alma, com uma imagem embelezada artificialmente, com a realidade escondida por detrás de tintas, camadas de maquiagem, ou retoques de bisturis, tentando aparentar uma felicidade que não existe. O que não corresponde à verdade não se sustentará sob o peso dos dias. O tempo é inexorável.

Quando Santa Teresa diz que “humildade é caminhar na verdade”, ela sabe que isso proporciona uma paz duradoura. A verdade sustenta-se ao longo do tempo, ao passo que a mentira, a “casquinha da aparência” dilui rapidamente. Se dizem alguma mentira sobre mim, o que importa? O que conta mesmo é o que sou, não o que pensam e falam, quer melhorando, quer piorando a minha imagem.

O famoso “eu mereço”

Com a ideologia do “eu mereço”, convenceram-nos a considerar que sempre somos dignos do melhor – e os outros, do pior? Esse pensamento alimenta o egoísmo e o individualismo, que conduzem ao consumismo e a tantas outras coisas vãs.

Assim, desejamos sempre ocupar o primeiro lugar: o mais belo (a), mais rico (a), mais inteligente. Entretanto, quase sempre – ou sempre – há alguém que é mais que nós.

Paz e leveza

Na contramão disso, Jesus ensinou-nos a buscar os últimos lugares. Caso as outras pessoas nos atribuam uma posição melhor, seremos exaltados.

Se aceitarmos sermos a realidade que somos, sem a necessidade de inventar e ostentar “vernizes”, estaremos caminhando na nossa verdade, estaremos cultivando a humildade.

Esta virtude ajuda-nos a enxergar em nós mesmos o que é pequeno ou inexistente. Isso é a base para a descoberta do que precisa ser desenvolvido ou adquirido, isso ajuda no crescimento e aperfeiçoamento.

Pelo contrário, se cultivarmos uma autoimagem da grandeza sem a possuirmos, seremos cegos para as nossas limitações, continuaremos com a atual “estatura existencial”, corremos até o risco de diminuir.

Sejas feliz, caminhe tranquilamente pela sua própria verdade. Isso produz leveza e paz.

José Hamilton Ferreira

Psicólogo José Ferreira – CRP SP 36505