Você está visualizando atualmente Dependência Química, aspectos biopsicossociais

Conversar sobre dependência química é entrar num tema de grande complexidade. Existe uma teia de conceitos, opiniões e agentes envolvidos. Mas é preciso encarar esta realidade. Ela está presente em nossa vida pessoal, familiar e social. Não temos como fugir da realidade. Coragem, venha comigo!

Desvendando

O título deste artigo já aponta para três dimensões: o corpo biológico, as emoções, que chamamos psique e o campo das relações sociais. Contudo, há ainda outras interações que a questão do álcool e das drogas abarca: saúde individual, saúde pública, economia, política, relações internacionais, moral, religião, cultura e muitas outras facetas.

Não é pela complexidade do tema que vamos nos deixar abater. Em cada artigo, em cada vídeo no Youtube você e eu vamos desvendando um pedacinho do problema. Com a nossa capacidade de reflexão, de busca e pesquisa, vamos completando o quadro e o mosaico vai adquirindo sentido.

Vencendo os monstros

Leonardo da Vinci dizia que vencemos apenas aqueles monstros que enfrentamos. Eu uso este princípio e encaro os “monstros” que surgem em minha vida. Também estimulo as outras pessoas a enfrentar, a olhar de frente para tudo o que possa amedrontar, para o que apavora as suas vidas, para as suas dificuldades.

Não enfrentar os desafios significa aceitar a derrota de cara, é ser derrotado sem lutar, é perder o jogo por WO. É duro dizer e aceitar isso, mas esta é uma forma de covardia.

Transvaloração cultural

A linguagem utilizada nas publicações sobre dependência química é transvalorativa, no sentido do projeto de Nietzsche de “transvaloração cultural”. Isto significa substituir os valores cristãos por valores laicos. Veja como isso se aplica nesta nossa questão.

Existem, sim, três aspectos básicos relacionados à dependência química. Atualmente utiliza-se o termo bio-psico-social. Mas originalmente a concepção trinitária da dependência referia-se às dimensões bio-psico-espiritual. É também um tripé, o termo “espiritual” foi substituído por “social”.

A palavra espiritual contempla tudo o que está no termo social e o amplia, incluindo o transcendente, o intemporal, os aspectos dos domínios divinos.

Admitir causas espirituais implica olhar para duas dimensões: a imanente e a transcendente. Vejamos o que isso significa.

Imanente

Por um lado, há que se buscar o entendimento dos aspectos relacionais do indivíduo com os outros indivíduos, com as instituições sociais – família, escola, religião, política, cultura – e com toda a realidade material. Este campo de experiências é mais palpável, está mais próximo dos nossos sentidos e dos nossos instrumentos técnicos. Em linguagem científica dizemos que é um estudo empírico. Filosoficamente, este é o domínio imanente.

Transcendente

Existe também uma dimensão mais profunda das nossas experiências, relacionada a princípios ontológicos (relativos ao SER),  que implica também os fins últimos, é menos palpável, não é visível, nem pode ser medida objetivamente. Mas a imaterialidade da coisa não a elimina, nem diminui os seus efeitos. Ela existe como um objeto mais complexo. Não pode ser vista e tocada, mas pode ser tão forte quanto uma paulada na cabeça.

Há aspectos espirituais que são transcendentes. Não estamos separando o humano, nem tratando-o como uma dualidade. No ser humano o imanente e o transcendente se completam.  Somos uma só realidade com três aspectos: espiritual, emocional (psíquico) e corporal. Temos a capacidade de nos relacionarmos com o imanente e com o transcendente.

Esta dimensão transcendente não está ligada apenas a questões de fé. O espírito também é sujeito moral, é sujeito ético, sujeito político e abarca outras “imaterialidades”.

Dimensão espiritual

O espírito está na base do sujeito. A alma espiritual, que podemos chamar de “eu”, é a senhora da razão, da vontade, dos sentimentos, das virtudes e dos vícios. A dependência química acontece primeiro por razões que estão no domínio espiritual, relacionadas à vontade, à curiosidade, à interdependência dos seres, etc. Depois afeta a vida emocional. Por último, as emoções, combinadas com outras potências, direcionam as operações para a matéria, onde estão os objetos dos nossos vícios: drogas, alimentos, objetos que desejamos possuir e tudo o que está à nossa volta.

Espírito, psique e corpo

Ora, sendo assim, a ordem está invertida, como uma imagem num espelho. A ordem natural da etiologia da dependência, isto é, da sua origem, seria melhor representada pela expressão “aspectos espirituais, psíquicos e biológicos” em vez de biopsicossocial. Nos atos voluntários, primeiro atua o espírito, depois a psique e a seguir os efeitos, ou operações, acontecem no corpo.

A terminologia utilizada pela literatura atual sobre dependência, com o termo biopsicossocial, coloca em primeiro plano o “bio”, corpo; em segundo lugar o “psico”, emoções, e em último lugar o “social”, isto é, as relações. Conforme foi visto acima, social deve ser ampliado para espiritual.

Inversão inocente?

Esta inversão, aparentemente inocente, da ordem dos fatores, induz primeiro a buscar a solução da dependência química nos remédios. Estes também são drogas. Podem ser inevitáveis em algumas circunstâncias, mas são drogas e muitos causam dependência.

Quando os medicamentos não resolvem o problema, o dependente é encaminhado para a psicologia, para tentar curar as emoções.

Somente quando são esgotados todos os recursos, quando resta uma última esperança, ou quando nem há mais esperança; talvez por desencargo de consciência, o doente é encaminhado para uma clínica que leva em consideração a existência da dimensão espiritual ou se busca algum caminho com “viés espiritualista”, seja ele qual for.

A busca inversa, começando pela via espiritual, que acolhe a dimensão emocional e a biológica, é o caminho esquecido e é o que produz os melhores resultados. Quem vê o espírito, sabe que existem emoções e corpo. Há pessoas, grupos, teorias e sistemas que enxergam somente o corpo. Estão presos ao imanente.

Se o espírito, se a vontade não tomar a decisão, se o “eu” não der o primeiro passo, não há medicação nem psicoterapia que possa curar.

Ah! mas assim não dá muito lucro, não alimenta a economia, não enriquece a nossa indústria farmacêutica e a dos países ricos, que toleram a circulação dos entorpecentes, que defendem leis mais brandas para as drogas.

O ser vazio e as drogas

A pós-modernidade, caracterizada pela ignorância e negação da dimensão espiritual é a era em que o drama das drogas é mais avassalador. Em nossos dias, quando a religião é atacada violentamente, vidas e famílias estão sendo destruídas; carreiras são desmoronadas; relações amorosas são interrompidas; a esperança de muitos jovens tem sido transformada em desespero: perda da saúde e da sanidade, dramas e mortes.

Não há droga e nem remédio para o VAZIO EXISTENCIAL. Não existe a pílula da felicidade. Não existe a substância que preencherá a vida de sentido. Não existe nada que se possa “enfiar” no corpo que possa alimentar o espírito. O espírito alimenta-se de coisas espirituais.

Existe saída

Quer se livrar das drogas?

Deseja proteger-se do perigo que elas trazem?

Gostaria de evitar o risco de viver este sofrimento na condição de co-dependente dos seus filhos, filhas e familiares? A resposta é:

Busque o alimento espiritual e o distribua fartamente. Preencha-se de sentidos, encontre as grandes razões da sua existência, cultive a vida espiritual, busque o que é fundamental, cultive sua alma, aproxime-se de Deus.

José Hamilton Ferreira

Psicólogo José Ferreira, CRP SP 36505-8.