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Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

A psicoterapia utiliza apenas a interação verbal? Além de falar, o que mais se pode fazer num consultório psicológico? Como um psicoterapeuta pode “conversar” com o corpo do paciente? Você quer saber mais? É isso que vou te mostrar neste artigo.

Pular, cantar, dançar, chorar…

No consultório junguiano o paciente pode falar, cantar, desenhar, dançar, trabalhar a respiração, ser estimulado através de técnicas de toque e utilizar muitas outras formas de interação. O ser humano é rico em suas formas de expressão, e todas esses modos de “falar” fazem sentido e são de grande utilidade na relação terapêutica.

Corpo-mente

O mesmo fenômeno que se passa no corpo, afeta a psique. Da mesma forma, o fenômeno emocional também afeta o corpo. Em suma, o que afeta um de um modo significativo altera o outro.

Veja alguns exemplos: um abraço é um acontecimento corporal. O abraço faz-se acompanhar de emoções: prazer, aconchego, acolhimento, aceitação, saudades, ou sentimentos ruins como repulsa, invasão e outros sentimentos.

Um tapa, sob o ponto de vista corporal, é apenas uma mão que atinge um corpo. Este gesto, se violento, será acompanhado de emoções como dor, raiva ou ressentimento. Se for outra natureza de tapa, um “tapinha”, será recebido como brincadeira, igual àqueles que se dá no bumbum de uma criança como expressão de carinho, ou jogo sexual, entre adultos.

O caminho inverso também ocorre: as emoções afetam o corpo. Coramos quando envergonhados, ficamos “brancos de medo” ou “de pernas mole”. Quando muito estressados geramos gastrites e diversas outras somatizações das emoções.

Método de trabalho

Pessoas, profissionais e até mesmo a ciência, algumas vezes tratam corpo e psique como se fossem duas dimensões separadas, como se não estivessem interligados. A integração fisiopsíquica é uma abordagem, um método de trabalho terapêutico.

Normalmente dialogamos com os pacientes. O diálogo, os relatos e falas são importantes formas de comunicação. São recursos privilegiados e exclusivos do ser humano. Contudo, não constituem o único meio de interação entre psicoterapeuta e paciente. Quando necessário e indicado, introduzimos trabalhos corporais. São utilizadas técnicas de toques sutis, estímulos e vivências, técnicas respiratórias, indução de movimentos corporais, dentre outros recursos.

Há situações em que a pessoa deseja conhecer melhor os processos que ocorrem com seu corpo e mente, deseja eliminar tensões ou dores localizadas. Momentos em que está muito tensa e precisando de relaxamento.

Falar ou fazer?

Em certas circunstâncias a abordagem corporal produz mais efeitos que apenas a fala terapêutica. Nestas ocasiões, mediante a concordância do (a) cliente, são  realizados os “trabalhos corporais”. Estes consistem numa série de técnicas não verbais com o objetivo de auxiliar a pessoa a acessar conteúdos que não estão sendo expressados verbalmente, a atingir um estado mais harmônico, e a integrar o seu corpo com as suas emoções.

As técnicas empregadas são a calatonia, a descompressão fracionada, os toques sutis, movimentos corporais, técnicas respiratórias, criação e desenvolvimento de imagens mentais, e muitos outros recursos. Simultaneamente, a interação verbal também acontece. A fala nunca é desprezada na psicoterapia.

Como funciona a abordagem corporal

Mas qual é a importância da abordagem corporal e como ela produz efeitos? A sensibilidade cutânea provoca vivências, algumas inéditas ou vivências que a pessoa não está acostumada. Isso cria amplas e novas possibilidades de conexões entre a vida corporal e a vida emocional.

As sensações e emoções geradas ajudam na desobstrução energética, aumento do sentimento de integração consigo mesmo e de bem-estar físico e emocional. Neste estado, livre das muitas tensões que estão bloqueando o ser, memórias são resgatadas e constrói-se um ambiente bem favorável à cura das feridas que estão abertas.

Todo terapeuta realiza trabalhos corporais? Não, apenas os que escolheram incluir esta possibilidade nos seus atendimentos e que estudaram como aplicar as técnicas corporais integradas com a interação verbal e outros recursos psicoterapêuticos.

O ser integral, por inteiro

Eu gosto de abordar a pessoa por inteiro. Sinto-me bem buscando integrar as três grandes dimensões do ser humano no trabalho terapêutico: vida corporal, vida emocional e vida espiritual.

O corpo é a dimensão mais visível, que pode ser tocada e vista.

As emoções são o aspecto invisível. São a atuação da nossa alma, que se manifesta de várias formas e está relacionada ao nosso passado, presente e futuro, especialmente as expectativas e os sonhos.

A vida espiritual vincula-se ao transcendente. Diz respeito ao sentido da vida e aos seus fins últimos, às grandes razões existenciais.

Aventura!

Uma terapia será integral quando contribuir para a pessoa integrar essas três dimensões do ser. Com isso ela conseguirá expressar o seu “self”, ou o si-mesmo, ou seja: aquilo que realmente ela é.

Sem dúvida, isso é uma aventura muito interessante!

José Hamilton Ferreira

Psicólogo José Ferreira – CRP-SP 36.505